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AGAMENON ALMEIDA DE SOUZA
(Piritiba, Estado da Bahia, Brasil)
Nasceu na vila de Areia Branca, em Piritiba (BA) em 03/01/1952.
Professor, contador, poeta e pintor, foi um dos criadores do Festival Regional da Canção, que se realiza todos os anos em Piritiba, e do jornal Pirivoz (fechado).
Bancário por quase 30 anos, em 2000 foi afastado de suas funções profissionais, depois de ser vitima de assalto, seqüestro e ameaças de morte. Mergulha num longo e penoso processo de depressão, que mais tarde revela em muitas de suas obras.
C É T I C O
Da verdade das coisas nada sei
Quiçá as aparências mutáveis
Completamente inconseqüentes
Que nada revelam.
Então, melhor, calar-se
A ficar conjecturando
Sobre o que é falso ou verdadeiro.
Talvez o ceticismo
Seja o melhor caminho,
Mas, ainda este, duvidoso,
Desesperançado,
Sem alegrias ou tristezas.
Melhor aprender com a natureza
Que de tão serena
Transforma-se admiravelmente
Todos os dias
Absolutamente em silêncio.
É T I C A
Confesso amargurado, envelheci precocemente
São tantos os conceitos que não compreendo mais
Valores que norteavam o procedimento humano
Perderam-se sem sentido no meio dos mortais
Vejo a ÉTICA desfigurada pelo engodo traiçoeiro
Vejo homens que se prestam a servis interesseiros
Vejo pragas que se alastram e embaçam a visão
Em condutas vergonhosas, lamentável aberração.
Vejo aqueles que ponderam de forma tão sutil
Preparando argumentos para um tropeço vil
Que por vezes escancara as raias do absurdo
Que não resta outra saída: seja cego, surdo, mudo.
Mas ainda temos loucos de loucura tão pungente
Que acreditam ser possível salvar a nossa mente
Da tortura tão em voga sem perder a condição
De ser gente decente sem de a ÉTICA abrir mão.
Por isso sempre digo, já não passo de um louco
Acredito nos motivos que movem estes poucos
Que colocam atrevidos, a ÉTICA por condição
Para erguer toda decência - não há outra solução.
O T E M P O
O tempo passa e passa tão depressa
Que nem sempre é possível acompanhar
Fingimos que temos o tempo na mão
E não vemos, aflitos, o tempo passar
Mas quando a gente se olha no espelho
E não mais reconhece o próprio rosto
Desfigurado que foi pelo tempo
Só se sente um amargo desgosto
Olhado pra traz, quase nada foi feito
E não tem mais jeito do tempo voltar
Então só se chora o tempo perdido
Por não ser possível mais nada mudar
Então se agarra ao que resta da vida
Achando que agora tudo pode fazer
Que às vezes se esquece que lá na esquina
Espreita-nos a morte, pondo tudo a perder.
BRASIL LITERÁRIO. Coordenação Editorial: Maria Almeida. Capa: Maria Bastos. Rio de Janeiro: Crisalis Editora, 1985. 103 p.
13 x 20 cm
Cultural, 2014. s. p. Edição espiralada. ISBN 978-85-63464-11-8. Ex. bibl. Antonio Miranda. Doação do livreiro Jose Jorge Leite de Brito, em 2021.
TRISTE FIM DE UMA RAÇA FORTE
Já não existe o sertanejo forte
Já não existe a terra da promissão
O que agora existe é o desafio da própria morte
A triste sorte de viver sem ter um chão.
E o sertão tão cantado e decantado
Já dá mostras de cansaço e solidão
Sem ter espaço este povo vai sofrendo
Sendo expulso, o pau de arara é a solução.
Sem ter lugar também nas grandes cidades
Em volta delas vai formando um cinturão
Massa disforme, sem direitos e sem legado
Tudo é negado, até o respeito ao cidadão
E o sertanejo forte de Euclides da Cunha
De repente se transforma em marginal
Mas não faz mal, é o cinturão que aperta
A hora é certa para um direito tão igual
E nos casebres das grandes periferias
Ainda sonham com a terra dos seus avós
Rio de leite com beiradas de cuscus
Triste ilusão pra quem vive com fome e só.
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Página publicada em julho de 2021
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